A IMPORTÂNCIA DA NATUREZA PARA A INFÂNCIA

Para que seja possível traçar uma relação de importância entre a natureza e seus elementos para a vivência da infância, é necessário que abordemos alguns pontos estruturais sobre as particularidades de ambas. Natureza e infância.

Desta forma, a partir de alguns conceitos de suas estruturas, isso poderá ficar cada vez mais claro.

NATUREZA

Tente por um instante não remeter seu pensamento a um pequeno gramado com uma árvore. Vamos construir um cenário maior.

A vida urbana a que nos entregamos muito possivelmente foi gradativamente nos afastando da natureza e de seus elementos. Mas a intenção desta matéria não é traçar nenhum preceito entre “certo e errado”. Simplesmente para uma reflexão necessária sobre os pontos de intersecção que efetivamente existem entre a criança e a natureza.

Vamos imaginar, então, uma floresta original, com sua vegetação e com sua fauna preservadas. Neste ambiente nós, seres humanos, iniciamos nossa trajetória existencial e deste ambiente obtínhamos todo o necessário para nossa sobrevivência.

Não bastasse, da natureza crua os seres humanos mais primitivos também passaram a construir sua história de evolução, a partir da matéria prima ofertada em abundância.

E mais! A exuberância que brota da natureza sempre ofereceu a nós as mais belas observações visuais que nossos olhos são capazes de alcançar. Não há máquinas fotográficas capazes de capturar a beleza de um simples pôr do sol em sua totalidade. 

Sendo assim, a relação dos seres humanos com a natureza tem caráter ancestral. Nossa memória mais remota não apenas aceita e se conforta com o contato com a natureza, mas ela busca por este contato, por mais urbanos que nos consideremos.

Ora, numa busca existencial mais profunda, tanto para quem crê na criação ou para quem prefere a evolução, é inconteste que o ser humano é parte da natureza e está diretamente envolvido em seu ciclo. Nascemos, interagimos e perecemos.   

INFÂNCIA

Da mesma forma com que criamos um cenário grandioso para falarmos de natureza, vamos tentar ampliar nosso pensamento. Desta forma, sairemos do conceito mais raso de que a infância é o período que compreendido entre o nascimento e os 12 ou 13 anos. Vamos além.

Podemos imaginar a infância como um estado de espírito onde os seres humanos são movidos pela curiosidade, pelo espanto causado pelas descobertas e pela experimentação. A soma destes elementos resultará naquilo que construímos em nossa evolução pessoal. 

Nesta condição, tudo o que for ofertado à criança fará estimular sua curiosidade. Ela desejará olhar, tocar, sentir, cheirar, interagir, conhecer e estabelecer uma relação de possibilidades. Qualquer objeto se prestará a esta função.

Trata-se aqui de um movimento involuntário de construção evolução pessoal que nos é absolutamente original. Este anseio de arregimentar conhecimentos a partir do ambiente que nos foi ofertado faz parte de nossa condição primitiva.

A infância, portanto, é o momento em que estes desejos e necessidades são mais presentes e por este motivo, merece tanta atenção e reflexão acerca das ofertas que lhe são mais favoráveis.

NATUREZA E INFÂNCIA. ONDE SE ENCONTRAM?

Criados esses dois cenários maios abrangentes, podemos refletir com melhor amplitude sobre a estreita e profunda relação que existe entre a natureza e a infância.

A partir do fato de que somos seres integrantes da natureza, quando proporcionamos o feliz encontro entre a criança e os elementos naturais, estamos em verdade promovendo um encontro entre um ser vivo e seu “habitat” original.

Levar uma criança ao chão de terra é entregá-la aos seus mais profundos sentimentos de pertencimento. Nossa ancestralidade é alimentada com a sensação de integração com o mundo original e natural.

O prazer que nos dá quando contemplamos o alvorecer, uma formação montanhosa, o brilho prateado de uma noite de lua, ou mesmo as observações mais sutis como o caminhar obstinado das formigas, o balançar do vento sobre as folhas, o levitar de um beija-flor, é ampliado pelo olhar da criança.

Mais curiosas e atentas, elas são capazes de se encantar e se interessar por tudo. Mas quando a oferta se dá com elementos naturais, existe um imediato disparo de aproximação vindo de sua própria ancestralidade. Somos natureza em nossa essência.

A multiplicidade de fatores que a natureza oferece envolve a criança numa gama de sensações que a faz sentir parte integrante. Os sons do vento que fazem dançar as árvores, somado ao cartar feliz dos pássaros soltos, as texturas e temperaturas que é possível experimentar, a harmonia cromática das plantas, a profundidade do céu…  

Por maior que seja nosso esforço em criar ambientes ricos para nossas crianças, e todo esforço é absolutamente válido, nada poderá superar a complexidade e a diversidade de sensações provocadas pelos ambientes naturais. 

QUAIS OS ELEMENTOS NATURAIS DE INTERESSE PARA A CRIANÇA?

Voltemos então para um cenário mais concreto e de certa forma mais possível. Sabemos que não é fácil, em especial nas grandes cidades em que vivemos, oferecer às nossas crianças a integralidade das riquezas presentes na natureza como um todo.

Mas é possível e recomendável que, o quanto mais pudermos, devemos aproximar a infância dos elementos naturais. Esta prática deve ser observada por gestores, educadores e pais, numa ação conjunta em favor da infância, como deve ser em todas as áreas de atuação.

Assim, seguem duas pequenas dicas:

1- VISITAS A PARQUES – Esta é uma dica que parece trivial, mas é uma prática ainda pouco adotada. Os parques de nossas cidades são uma representação da construção da natureza com boa parte de seus elementos. 

Preferencialmente, roupas confortáveis e pés descalços vão favorecer o contato mais direto com o chão e sua composição. As observações visuais e sonoras também são favorecidasnestes ambientes.

Muitas escolas possuem árvores, gramados, canteiros, etc., mas acabam por não fazer uso. Entregue sempre que possível este ambiente às crianças, TODAS ELAS.

2- FOLHAS DE ÁRVORE, GRAVETOS E PEDRAS – Os quintais de nossas casas e os jardins das escolas onde haja gramados e árvores são constantemente regados por pequenos elementos. Folhas que caem, gravetos e pedras em geral são imediatamente varridos, em favor de uma aparência mais limpa. Ocorre que quando extraímos estes elementos, estamos empobrecendo de possibilidades nosso chão.

Ao contrário. É recomendável que parte deles seja preservada para que as crianças façam uso livre de sua imaginação. E onde não haja estes elementos, colha-os de algum lugar e disponibilize-os.

QUAIS AS VANTAGENS DE APROXIMAR A CRIANÇA DA NATUREZA?

– ESTIMULA A CURIOSIDADE
– FAVORECE A CRIATIVIDADE
– ENRIQUECE AS FUNÇÕES MOTORAS
– MELHORA O SISTEMA IMUNOLÓGICO
– REFINA OS SENTIDOS
– ESTABELECE A SENSAÇÃO DE PERTENCIMENTO
– DESPERTA O DESEJO DE CUIDADO

Em tempos em que tanto discutimos a importância de preservação ambiental, nada parece mais efetivo para as gerações futuras do que estabelecer uma relação de proximidade com a natureza.

É muito mais fácil a conscientização das gerações futuras se estimularmos neles o amor pelo natural, pelo planeta e sua diversidade. Quando se sentem parte do todo, o desejo de cuidar cresce naturalmente nos seres humanos. Cuidar do que se ama. E só se pode amar aquilo que se conhece e experimenta.

Se podemos ser estimulados a cuidar de nossos bens materiais, nossas casas e apartamentos, nossos carros e objetos pessoais, muito mais podemos zelar por aquilo que, além de nos oferecer elementos de aprendizagem, pode nos fazer sentir as nossas mais primitivas sensações de integração. O vínculo de amor nascido da entrega ao colo. 

Vamos refletir sobre isso? Quanto deste colo de mãe natureza oferecemos às nossas crianças? Como exigir que amem algo que desconhecem? Como entregar a eles suas sensações mais primitivas e ancestrais se não deixá-los experimentar seu próprio planeta?

Que o chão de nossas escolas e de nossas casas sejam colo.