O QUE APRENDI COM AS CRIANÇAS

Mais um ano letivo acabou de começar, mas de repente parou…
De repente começamos a refletir sobre nossa existência, não que antes não acontecia, mas agora, diante da superioridade de algo quase invisível, nos vemos impotentes e o medo de perdermos o que mais amamos nos aterroriza.
De repente muita coisa perdeu o sentido e para não perdermos a esperança nos apegamos às memórias de tudo que já vivemos e imaginamos o que ainda iremos viver e, como professora, claro que as lembranças vividas com as crianças são algo que me acompanha constantemente, então posso dizer que ainda bem.
Ainda bem que as crianças me deram coisas que nenhum dinheiro pode comprar, me ensinaram a enxergar a beleza da infância que nenhum mestre ou doutor em educação pode me fazer deixar-se encantar.
Me ensinaram que compartilhando com o colega, a arte da vida fica mais bonita.
Me ensinaram que as diferenças existem apenas para nos completar ou nos ensinar.
Me ensinaram que o divertido é desafiar e vencer os próprios medos.
Me ensinaram que sendo livres para criar, nos desprendemos das correntes da padronização.
Me ensinaram que sentir o vento é uma das sensações divinas mais saborosas.
Me ensinaram que ficar um pouquinho sozinha é bom para observar e tirar minhas próprias conclusões.
Me ensinaram que às vezes é necessário se fantasiar para encarar as dificuldades (e isso as tornam mais leves).
Me ensinaram que muitas de nossas construções que demoramos edificar, num instante devem ser reconstruídas porque não servem mais.
Mas não precisamos nos entristecer com isso, devemos nos alegrar por estarmos crescendo internamente.
Me ensinaram que não há obstáculo que não possa ser vencido ou desviado.
Me ensinaram que é mais gostoso experimentar quando podemos partilhar.
Me ensinaram que ás vezes se “jogar” por inteiro é mais proveitoso para sentirmos de fato cada experiência.
Me ensinaram que não importa o que os outros estão fazendo, eu realizo o que quero, no momento, e o que eu acho importante, sem me preocupar com os conceitos dos demais.
Me ensinaram que não preciso necessariamente seguir o mesmo fluxo dos outros, vou na direção que achar melhor.
Me ensinaram que a “bagunça” pode ser produtiva, os nós existem para serem desfeitos e reorganizados.
Me ensinaram que observar o outro é bom, mas não preciso copiá-lo, é melhor ser autêntica.
Me ensinaram que quando a vida te dá um gelo, basta aquecê-lo para conquistar o que quer.
Me ensinaram que é necessário testar muitas e muitas vezes para que o plano dê certo, mas se não der, tudo bem.
Me ensinaram que é sempre bom darmos um espacinho para mais um, mesmo que aparentemente não caiba.
Me ensinaram que com um abraço posso curar muitas dores, as minhas e as do meu próximo.
Me ensinaram que as “melecas” da vida não precisam serem vistas como algo ruim, devo aproveitá-las.
Me ensinaram que nem todas as discussões são negativas, basta ter humildade para compreendê-las.
Me ensinaram que é normal ficar triste, só não vale a pena ficar assim por muito tempo.
Me ensinaram que ás vezes é bom estarmos no alto,
mas observar de baixo também é necessário.
Me ensinaram que devo criar barreiras apenas para o que me causa o mal, mas se não for possível, que encontre uma saída
Me ensinaram que não preciso ser perfeita, contanto que os alicerces sejam bem instalados.
Me ensinaram que as pontes que construo devem me levar onde desejo e que me leve à felicidade, assim poderei encaminhar outros também.
Me ensinaram que é preciso dar uma pausa e descansar.
Me ensinaram que posso comparar, mas o que o outro tem, não é melhor nem pior do que o que eu tenho.
Me ensinaram que às vezes ajo com delicadeza, às vezes tenho que agir mais energicamente.
Me ensinaram que prestar atenção em mim e em minhas sensações é necessário, nem que seja preciso deixar de fazer o que é para ser feito.
Me ensinaram a respeitar que nem todos recebem o desconhecido como algo bom, mas que recebê-lo com alegria me faz bem.
Me ensinaram que as surpresas boas estão mais próximas do que imagino, ainda bem…
Enfim, poderia ficar horas lembrando do quanto sou privilegiada por ter vivenciado experiências com as crianças e por enquanto só tenho a agradecer.
Agradeço a cada criança que esteve, está e estará comigo.
Ainda bem.

Silmara Santos