Quando falamos em alfabetização estamos nos referindo, antes de ser um tema pedagógico, a uma das mais importantes ferramentas de comunicação, registro e expressão de que a humanidade faz uso, desde há muito tempo.

E cabe uma reflexão sobre isso: nos tempos remotos ler e escrever sempre foram atividades destinadas aos sábios e aos poderosos e isso a história já cuidou de nos revelar. Mas será que efetivamente não foi a capacidade de ler e escrever que de forma reversa entregou sabedoria e poder aos detentores destas possibilidades?

Seja como for, vivemos hoje a democratização do conhecimento que nos é entregue pelas mais diversas formas, especialmente com o avanço das tecnologias, e isto é maravilhoso. Mas certo é, também, que a leitura e a boa interpretação e compreensão de textos guarda sua importância muito vigorosa na relação ensino/aprendizagem.

Desta forma, a todos nós, especialmente aos educadores, cabe conhecer com mais proximidade os caminhos que se percorrem no processo de alfabetização e como identificar de forma personalizada e individual, onde cada criança está neste processo, para o máximo aproveitamento de suas ações.  

O que é a sondagem no processo de alfabetização?

A “sondagem” ou avaliação diagnóstica é um mecanismo que possibilita ao educador a exata compreensão do “momento” em que cada criança está, no que diz respeito ao processo de alfabetização. Apesar de ter caráter diagnóstico, como o próprio nome nos revela, ela pode ser considerada uma forma de “escuta”, já que possibilita uma aproximação entre o educador atento e o necessário “próximo passo” a ser dado pela criança.

A sondagem nada mais é do que uma espécie de ditado, aplicado de forma individual, onde uma lista de palavras do mesmo campo semântico (que sejam comuns a um mesmo tema), deve ser escrita pelas crianças, e repetida em voz alta.

E aqui vale destacar que não se trata de aferir conhecimento, como um teste ou prova. O interesse específico neste caso é identificar a relação que a criança já tem estabelecida com a escrita e com a língua. 

Assim diz Emilia Ferreiropsicóloga e pedagoga argentina, doutora pela Universidade de Genebra sob orientação de Jean Piaget:

Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo conjunto de palavras, está oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para ser avaliado. Aprender a lê-las , interpretá-las é um longo aprendizado que requer uma atitude teórica definida.”

Interpretar, avaliar e agir de forma teórica definida, a partir da forma de pensar a escrita que já habita a criança, antes mesmo da intervenção escolar. Esta conclusão está contida na pesquisa desenvolvida por Emilia Ferreiro e Ana Teberoski e está na obra Psicogênese da língua escritae é de leitura merecida.

Esta interpretação para as necessárias avaliação e ação passa pelas quatro hipóteses de escrita:

HIPÓTESE PRÉ-SILÁBICA

Quando a criança está neste momento de seu aprendizado, algumas características são muito presentes e marcantes. Elencamos aqui algumas delas:- Desenhar e escrever tem o mesmo significado
– Não relaciona a fala à escrita
– Não diferencia letras e números
– Imagina que a palavra representa o objeto e não o seu nome
– Apresenta traços típicos da escrita de forma desordenada
– Caracteriza uma palavra como letra inicial
– Usa as letras do próprio nome para quase todas outras escritas
– Lê a palavra como um todo.

HIPÓTESE SILÁBICA

Neste momento, em especial a criança já pode relacionar a escrita à fala e para cada fonema, se utiliza de uma letra para representá-lo. Além disso:- Pode atribuir valor sonoro à letra
– Pode se utilizar de muitas letras na escrita e, ao ler, aponta cada letra a um fonema
– Ao escrever frases, pode usar uma letra para cada palavra

HIPÓTESE SILÁBICA ALFABÉTICA

Pode ser entendida como uma transição entre a Silábica e a Alfabética.

Nela há o rompimento de uma fronteira, e a criança já compreende que a escrita representa os sons da fala e onde ela supera a hipótese silábica. A partir deste momento, passa a perceber a necessidade de mais uma letra na formação da sílaba. E mais:- Pode dar ênfase à escrita dos sons das vogais ou das consoantes
– Já atribui valor de fonema em algumas letras

HIPÓTESE ALFABÉTICA

Muitas compreensões surgem a partir da hipótese alfabética. Aqui a criança já compreende que a escrita é uma forma de comunicação e que pode fazer uso social dela. Ela já conhece o valor sonoro de todas ou quase todas as letras e já apresenta uma estabilidade na escrita das palavras. – Compreende que cada letra corresponde aos menores valores da sílaba
– Já é capaz de adequar a escrita à fala
– Faz leitura com ou sem uso de imagens
– Já podem iniciar as preocupações com as questões ortográficas

Este é um pequeno e breve resumo deste estudo tão complexo e desafiador. Quando nos propomos à tarefa de sermos educadores atentos e disponíveis, quando desejamos à criança o protagonismo na condução dos processos educativos, e quando acreditamos nas potências individuais e no aproveitamento máximo das experiências anteriores trazidas por cada criança, este tema precisa habitar nossos conhecimentos.

Em nosso site está disponível um curso EAD que pode ser um marco na forma como você entende, reconhece e interpreta as hipóteses de escrita, e certamente será um diferencial em suas ações.

Acesse: Hipóteses de escrita – Teca Antunes

O quanto desafiador é para o educador conhecer e reconhecer a alfabetização como a ferramenta que a criança trará consigo por todos os seus dias? Alfabetizar é entregar à criança a chave que pode lhe abrir todas as portas.