Apesar de serem dois temas distintos, a imaginação e a criatividade são indivisíveis. Elas caminham de mãos dadas, e nos acompanham ao longo de toda vida. 

Qual de nós não tem suas imaginações? Elas vão desde o mais trivial de nosso desejo, como imaginar (quase sempre) um lindo e fresco pudim de leite recém preparado, ou quem sabe uma xícara de café fresquinho a acompanhar um delicioso pão de queijo. Também somos capazes de imaginar enormidades, como um mundo sem fome, sem violência, com etnias e religiões diversas vivendo em plena harmonia e respeito.

A imaginação, na maior parte das vezes, está ligada muito intimamente aos nossos desejos, aos nossos sonhos, ao alcance de nossos próprios desígnios. Assim como os músculos do atleta, existe uma significativa importância na manutenção de nossa imaginação, porque ela é capaz de revelar nosso desejo de viver, de sonhar, de projetar o que está por vir.

Enquanto isso, na complexidade de nossas formações e transformações neuronais, está nossa criatividade. Como dito, ela tem um laço muito estreito de relação com a imaginação. Mas a criatividade dá à imaginação uma materialidade efetiva. Ela é ato posterior, regada com uma boa dose de nossa vivência, de nossas experiências anteriores e de nossa aptidão artística (que todos possuímos em certa medida).

A criatividade é capaz de transformar em real a nossa imaginação, para inovar, para recriar, reciclar ou solucionar problemas do cotidiano que, porventura, surjam no decorrer de nossos dias, no nosso trabalho diário, ou no nosso ócio.

Especialmente na infância a imaginação e a criatividade são elementos muito presentes, e merecem estímulo constante e muito consciente. Elas surgem na criança nos primeiros meses de vida, porque todo elemento novo entregue aos seus olhos ou às suas mãos, todo som inédito que lhe atravessa os ouvidos, as sensações táteis que lhe envolvem, os aromas que lhe são entregues são TODOS, absolutamente novos e desconhecidos. Elas imaginam e elaboram suas teses sobre: “o que é isto? …quem é ela? …

Há conceitos importantes embutidos nessas questões.

– A OFERTA: Sendo um ser eminentemente imaginativo e criativo, a criança tem o direito de ter uma oferta robusta de elementos capazes de lhe fomentar a imaginação. Desde contar histórias e a leitura de livros, até a entrega de materiais não estruturados tem, todos eles, um potencial passivo enorme a ser explorado. Quando elas se deparam com situações ou objetos novos, imediatamente sua imaginação ganha um “start”, que as move à exploração, manuseio, que se somam às outras sensações: olfativas, táteis etc.

– A ESCUTA: Durante o processo de aproximação com as ofertas, a criança pode demonstrar algumas demandas, verbalizando-as ou apenas demonstrando-as. Ter sensibilidade para a escuta nos possibilita o enriquecimento da oferta. A criança pode buscar por objetos complementares, por ferramentas aptas a execução de tarefas, ou qualquer outro elemento que se aproxime particularmente de suas aptidões. Tanto a escuta silenciosa de suas necessidades, quanto a escuta efetiva de seus anseios, podem colaborar significativamente na apropriação dos espaços e elementos destinados à imaginação e criação.

– A LIBERDADE: Terá pouca efetividade a oferta, se não entregarmos à criança a liberdade plena de aproximação, exploração, identificação e intimidade com aquilo que lhe foi entregue. Precisamos estar muito atentos a esse elemento, porque a liberdade requer tempo, e cada criança tem o seu próprio “timing” para isso. O quanto possível, a liberdade precisa atingir, num primeiro momento, o tempo. Ele deve ser elástico, flexível, de forma a fazer caber nele todas as fases que a criança precisa para apropriar-se, imaginar e criar. 

Ainda dentro deste tema, a liberdade precisa atingir a quem deseja imaginar e criar. Não é confortável às crianças, nem a ninguém, entregar-se a uma imaginação em ambiente tenso, regrado e controlado, seja para criar ou apenas para alimentar-se de sonhos e desejos. Assim o quanto os pensamentos imaginativos e criativos forem livres, e assim também os imaginadores e criadores, tanto serão livres as suas criações.

Desta forma, o adulto responsável precisa também desta liberdade para entregar à criança aquilo que lhe é adequado, e mais do que isso, o que lhe é devido. A imaginação é quem dá sentido ao inédito, que dá forma ao invisível, que é capaz de produzir sentimentos a partir do que não se vê. Ela nos transforma em príncipes e princesas, nos conduz aos castelos, nos insere nas histórias, nos permite participar delas. 

Todos somos seres criadores quando temos a liberdade de dar vazão às nossas imaginações, porque as transformamos em concretude. Quantos compositores, pintores, escultores e tantos outros inúmeros ramos da arte são agraciados por obras de criação absolutamente incríveis? Todos fomos crianças a imaginar sonhos, a sonhar coisas e a criar o novo, deixando escapar de nós a arte.

O quanto de oferta e liberdade estamos entregando aos nossos? Pois qualquer que seja sua resposta, é sempre possível exercitar nossa imaginação e criatividade, em favor da infância que ainda vive em nós e em favor da infância que nos está confiada.

Imagine e crie…