Há quase seis meses atrás, quando da confirmação de que seríamos agraciados com a possibilidade de trazer de Reggio Emilia a Mostra Sconfinamenti, nossos corações se encheram de alegria, nossas cabeças de preocupações. Polos positivos e negativos que nos transformaram em “pilhas”. As cabeças que pulsavam ideias moviam os braços e pernas de todo o corpo de nossa equipe. Parcerias, locações, móveis e imóveis, organização, datas e horários, compras, escolhas, contas e boletos. Fomos movidos, sobretudo, pelo amor à educação, pelo respeito ao professorado. Telma e Fabi estavam prontas. 

Durante a montagem, fomos máquina. Escadas, parafusos, tecidos, luzes, energia, equipamentos, tecnologia, televisores, computadores, folhas secas, pedras, galhos, água… Natureza. Uma variedade de elementos até então dissonantes. Um quebra-cabeças de peças que aparentemente não apresentavam encaixes lógicos. Um campo inédito de descobertas só comparável ao próprio mundo em que vivemos, sendo apresentado a uma criança. Tudo ali se apresenta novo, mas absolutamente possível.

Os dias e as horas passaram em poucos instantes. Somente o corpo e suas limitações denunciavam o cansaço. O contentamento de todos nós, entretanto, se sobrepunha aos desafios, e seguimos firmes empunhando nas mãos nossas ferramentas, e no coração a esperança de chegar às crianças. Dado momento estava tudo pronto e com a aprovação dos olhos atentos, preparados e exigentes de Marina Mori e Federica Castrico. 

O que eram banners, cadernos, luzes e  outros materiais naturais passaram a compor um único corpo.  Elementos da natureza e elementos digitais em sintonia. Composições diversas de brilhos, imagens, concreto e abstrato. Informações e registros a inspirar nossos visitantes. Entregar a eles a possibilidade de suspender o tempo, reencontrar suas curiosidades e possibilitar o toque, a experimentação. Dar uma chance à imaginação infantil que ainda insiste em nos compor.

Cada painel uma nova chance de ser tocado. Cada registro uma oportunidade de conhecimento e reconhecimento. Encontrar sempre algo novo e ter a certeza que nada está encerrado em nenhum relatório. A cada criança uma nova chance, um novo olhar, um caminho inédito. A aproximação do digital ao natural que permite um sem número de possibilidades, elevados à potência de cada ser. O infinito elevado à sua própria potência. 

Num instante, chegamos ao fim do evento. As luzes apagaram, as sombras se recolheram, as transparências descansaram, os brilhos esmaeceram. Mas eles descansam serenos nas memórias de nossas queridas educadoras, e acenderão, um por um, em cada escola onde estas sementes foram plantadas. E ao chegar em cada criança, tudo fará sentido, mais uma vez. 

Cada visitante foi tocado de alguma forma, por alguma experiência, por um microscópio, por uma imagem, ou pela possibilidade que um elemento ofereceu para conhecer o outro. Tudo afinal fez sentido. Um atelier é mesmo um quebra-cabeças com peças disformes e estranhas entre si, mas refletem em alguma dimensão o próprio mundo onde vivemos. Somos muitos e somos diferentes, nos apropriando das experiências com o mundo e entre nós. Emaranhados numa complexa trama que, observada, estudada e onde podemos nos entregar, faz todo o sentido.