Não, os ninhos não são um mero suporte para ovos. 

Imagine, caso ainda não tenha visto, um pequeno ninho de beija-flores, com sua construção delicada e bem organizada, acolhendo os pequenos ovos. A imagem é leve e sutil, assim como seu voo estável e gracioso. Agora faça um esforço para construir mentalmente um ninho de dinossauro, com sua grandeza e brutalidade. Parece ser bastante difícil o exercício, mas acredite, eles foram capazes inclusive de chocar seus ovos com seus corpos pesados e enormes. E como isso foi possível? 

Ocorre que, desde o início dos tempos, os ninhos trazem consigo muito mais do que simplesmente um lugar ou um abrigo temporário. Há neles muitos outros conceitos: maternidade, preservação da espécie, sobrevivência, afeto, proteção.

Também sua construção é repleta de nuances muito peculiares. Desde aquelas mais comuns, com seus trançados de ramos secos em forma de pequenas “cuias”, ou aqueles construídos em “tocas”, como os das corujas, e até formas mais elaboradas, com a utilização de argila ou barro, como faz o “João de Barro”. Uma engenharia nascida da inteligência que rege a natureza.

Mas há um item comum em todos eles: amor. 

Para todos, o processo se inicia na escolha do lugar onde se vão construir. É necessário que o ser encontre conforto, segurança e confiança, afinal, ali será depositada sua esperança de sobrevivência, seu futuro, seus filhos. Dedicação pela construção dos laços afetivos que abarcam todos os seres vivos. O ninho acolhe muito mais do que apenas ovos. Ele acolhe desejos, sonhos, esperança.

Passarinhos alçam seus voos em busca de um ramo, folha ou palha, que são conduzidos um a um. A cada desembarque, pisam delicadamente sobre suas bordas, com a leveza suficiente para não as destruir. Seus bicos trançam cuidadosamente os pequenos galhos uns aos outros, a dar o tamanho e a consistência exata de suas necessidades. 

Outros animais também se empenham em suas feituras. Cada um deles ao seu modo peculiar, com suas habilidades específicas e com as ferramentas que lhe são disponíveis. Os ninhos são um espetáculo ímpar, cuja observação nos toca muito profundamente. E sabemos porquê.

O primeiro contato dos seres, quando de seu nascimento, desde sempre, se dá com seu ninho. Ali está impressa sua ancestralidade, está depositada a energia de seus antepassados, está presente a textura dos materiais que lhe são adequados, os aromas das folhas que lhe serviram de material de construção. Ali experimentamos nosso primeiro alimento, equilibrado e balanceado para nos nutrir com adequação. Para os pássaros, ele chega pelos bicos de suas mães ou seus pais, que cuidadosamente entregam em porções divididas igualitariamente aos pequenos bicos abertos e famintos de todos. Para os mamíferos, o corpo esgotado pelo parto se entrega ao descanso, enquanto suas mamas conduzem à saciedade. Cada qual em seu ninho específico, os alimentos entregam nutrientes, os corpos entregam laços e anticorpos.

Do ninho se fez um verbo transitivo. Aninhar: abrigar-se, recolher-se. E conjugá-lo nos remete às memórias felizes de infância. Quem não se recorda com amor de encolher-se no colo de nossos pais ou avós, ou em suas camas, quando nos assombrávamos num pesadelo, num estrondo de trovão ou num filme de terror. Já na juventude, encontrar ninho nos braços do primeiro amor, para depois reencontrar o velho ninho, quando da primeira decepção. 

Uma via de mão dupla. Tão prazeroso quanto encontrar ninho, é ofertá-lo. Fazer de sua casa ambiente seguro e feliz, onde pássaros encontrem razão para construí-lo. Fazer de si alguém com quem os outros desejem estar, dar escuta às suas angústias, dar de comer aos famintos, de beber aos sedentos. Respeitar e cuidar de quem lhe cerca, acolhendo seus medos, amparando e entregando em seu colo o ambiente seguro onde se lhe possam refazer.

Há ninhos que se erguem apenas em construção de amor. Uma rica trama de sentimentos entrelaçados. São nossos lares que se constroem de respeito, de convívio, de partilhas. 

Também as escolas são ninhos. Cada criança que chega, especialmente nos anos iniciais, traz em si a sensação de estar fora de seu ninho original. O medo e a insegurança podem encontrar conforto e confiança no ninho construído pelos educadores, num colo afetivo, numa escuta amorosa, numa palavra suave, ou apenas num silencio de cumplicidade. Um abraço de ninho. 

Símbolo maior de acolhida, ninho é lugar de desejo de todos nós.

Não, os ninhos não são um mero suporte para ovos.

Eduardo Ferreira