* Texto de Diana Tubenchlak, originalmente publicado no blog do Instituto Tomie Ohtake.

Diana Tubenchlak consultora em arte educação e idealizadora do No Colo, escreve sobre as experiências com crianças de até 18 meses nas exposições do Instituto Tomie Ohtake, os pressupostos levados em consideração no planejamento das atividades, como a multissensorialidade e a criação de espaços e materiais que convidem à experiência, e o envolvimento de professores e familiares na inclusão de diferentes públicos.

O programa No colo, parte das atividades do projeto Manhãs de história do Núcleo de Cultura e participação, tem como intuito a inclusão de crianças de até 18 meses e seus familiares nas atividades culturais do Instituto Tomie Ohtake. Além disso, está no bojo do programa a inserção desse público em outros espaços de arte e cultura por meio da formação de professores de creches e escolas, educadores e outros profissionais que atuem na educação infantil.

O projeto Manhãs de história, realizado pelo Instituto Tomie Ohtake com patrocínio da Cielo, teve sua primeira edição em 2015 e busca a inclusão dos públicos com e sem deficiência nos espaços da arte e da cultura por meio de ações dos mais diferentes formatos, como contação de histórias, ciclos de palestras, exploração do espaço urbano, cursos para professores, oficinas e produção de audioguias e outros materiais acessíveis.

Diana Tubenchlak é mestranda em Processos artísticos, experiências educacionais e mediação cultural no Instituto de Artes da UNESP, é especialista em Linguagens artísticas contemporâneas: ensino/aprendizagem pela Faculdade Santa Marcelina e licenciada em Educação Artística pela UERJ. Trabalha com arte e educação em escolas, projetos sociais, ONGs, museus e espaços culturais desde 2001. Seu foco de atuação é em mediação em arte contemporânea, formação de docentes e elaboração de propostas artísticas para todas as faixas etárias.

No Colo: encontros, descobertas e compartilhamentos.

Chororô! Confusão! Corre-corre para trocar a fralda! A paciência acabou! Grita de fome! e os vários outros estereótipos de quando se pensa um grupo com vários bebês e seus familiares dentro de uma exposição de arte passam longe do que vem acontecendo nos encontros do No Colo. Por aqui temos visto olhinhos que brilham, mãos que descobrem, sorrisos, muita concentração, cara de curiosidade, ouvidos atentos e muita, muita harmonia, coletividade e sintonia.

De fato, no planejamento das ações almejávamos isso tudo, mas é quando nos vemos frente a frente, frente às exposições em cartaz e frente aos materias escolhidos para as oficinas, que saberemos como mais um encontro irá acontecer.

Em cada No Colo mães e pais, que viram seus cotidianos transformados com a chegada de seus bebês, buscam espaços de convivência que transmitam segurança e possibilidade de encontros. Neste sentido, um espaço de arte e cultura como o Instituto Tomie Ohtake pode ser um ambiente de troca entre pares que passam pelos mesmos desafios que chegam junto com a maternidade e a paternidade.

Descrição da imagem: Do lado esquerdo da foto um homem de barba está tocando violão. Ele está sentado no chão assim como os bebês, mulheres e homens que estão diante dele. Alguns bebês estão de pé, sustentados pelos adultos e observam atentamente.


No Colo é planejado e realizado a partir de alguns pressupostos, são eles: a relação entre mães, pais e bebês; a multissensorialidade; a inter-relação entre exposição, mediação e oficina e a potência pedagógica dos espaços e materiais.

Este outro espaço de relação criado para as famílias convida para um desvio das ações cotidianas e oferece aos pais e mães a possibilidade de mediar as produções artísticas expostas e aquelas a serem realizadas pelos próprios bebês. Isso acontece dentro de uma situação em que se sentem confortáveis, com espaço para amamentar, com trocador, estacionamento para carrinhos e tudo mais o que podem precisar.

A multissensorialidade é o cerne de toda a ação, a visita às exposições conta com vários recursos de acordo com sua temática. Além disso, temos a presença de música ao vivo. É pensada uma linha de repertório, como na exposição Aprendendo com Dorival Caymmi – civilização praieira, em que tivemos a presença da cantora e intérprete Mariana Furquim e do violinista e violonista Uirá Ozzeti, que juntos interpretaram as canções de Caymmi dentro da exposição e ao longo da oficina.

Descrição da imagem: Do lado direito da foto um homem de óculos visto de perfil segura um bebê diante de uma pintura de um homem de barba e braços cruzados vestindo casaco e cachecol com um quadro ao fundo. A pintura é toda em tons de azul, apenas o rosto é amarelado. Atrás do homem segurando o bebê há uma mulher segurando uma moldura de papelão com plástico translúcido vermelho entre o campo de visão do bebê e a pintura.


Os eixos exposição, mediação e oficina estão inter-relacionados, de modo que cada ação seja pensada de forma ímpar – os materiais de mediação e das oficinas são escolhidos para cada situação e uma nova proposta é feita a cada encontro. Para a mediação nas salas expositivas, uma série de objetos – visores, tecidos, vestuários, entre outros – são dispostos ao longo da mostra em cartaz, criando um diálogo tátil e visual com os pequenos visitantes. Em seguida, as oficinas são pensadas de forma que adultos e bebês passem juntos por experiências em diálogo com o que foi descoberto. Assim, em Aprendendo com Dorival Caymmi – civilização praieira os bebês faziam um percurso por elementos vindos da praia – areia, conchas e pedras. Enquanto isso, os adultos produziam as “garrafilhas do mar”, que seriam ofertadas aos seus filhos.

Descrição da imagem: uma mulher de cabelos lisos, longos e escuros e uma menininha de cabelos curtos e cacheados, vestido branco com bolinhas azuis e sapatos vermelhos. As duas estão segurando uma garrafa de plástico transparente contendo líquido azul com bolinhas brancas. A mulher e a menininha estão sentadas no chão sobre um tatame de placas azuis e rosa. Ao lado delas há um bebê sentado.


Já em cada um dos três encontros da exposição Picasso – mão erudita, olho selvagem, diferentes oficinas de pintura com tintas artesanais foram oferecidas, com diversidade de suportes e ferramentas.

Descrição da imagem: um bebê de pele clara e cabelos escuros levemente ondulados, roupa em tons de azul claro e meias cor de rosa com as pontinhas amarelas. O bebê está segurando um pincel em cada mão, ambos com as cerdas no grande papel branco sobre o qual está sentado.

A ideia do espaço e material como convite à experiência é amplamente desenvolvida em todas as ações do No Colo. Acredito que várias formas de comunicação, além da verbal, podem convidar os bebês para as propostas artísticas. Desta forma, o acesso aos espaços e materias é organizado com o intuito de criar situações de autonomia e descobertas para os pequenos visitantes. Em um dos encontros da exposição Picasso – mão erudita, olho selvagem, um varal de fronhas brancas recheadas de guizos apresentava-se ao alcance das pequenas mãozinhas. No momento em que passavam buchas e escovões banhados de tintas artesanais nas fronhas, o som do guizo se revelava e ritmos eram criados.

As ações do No Colo ainda contam com encontros de formação para educadores do Instituto Tomie Ohtake e para professores de Educação Infantil das redes pública e privada de ensino.

Por entender a Educação Infantil como indissociável da arte, as instituições culturais podem potencializar seu papel de laboratório de experiências artísticas para professores de creches e escolas. Nesta toada, convidamos esse público para participar do curso Arte para (ou com) crianças pequenas – Compartilhamento de experiências do No Colo. Momento em que apresentamos e discutimos os pressupostos aqui já mencionados; compartilhamos as propostas artísticas e materiais desenvolvidos especificamente para os bebês de até 18 meses e debatemos as possibilidades de transposição das atividades para os locais em que os participantes trabalham.

Descrição da imagem: uma grande roda de homens e mulheres sentados em cadeiras dentro uma ampla sala de paredes brancas com porta de madeira e tela de projeção de imagem. No chão, no centro da roda, diversos papéis coloridos pintados e garrafas com líquidos translúcidos também coloridos.


É importante ressaltar que nesse curso tivemos também a presença de terapeutas ocupacionais, psicólogas e outras pessoas que trabalham com tratamento e inclusão de crianças pequenas com deficiência, o que foi fundamental para aprofundarmos os diálogos sobre o papel da arte nos processos inclusivos em diversos espaços de nossa sociedade.

Desenvolvemos a ideia de que as atividades com bebês nos espaços de arte e cultura trazem contribuições para a sociedade nos campos das relações interpessoais, na inclusão de pessoas com e sem deficiência nos diversos circuitos e nas pesquisas para o desenvolvimento da Educação Infantil.

Diana Tubenchlak