O brincar pressupõe liberdade e riscos.

O processo de construção de saberes surge pela capacidade de imaginação. Em toda a história, as invenções, tecnologias e construção do nosso mundo surgiram a partir da curiosidade e o quão longe poderíamos ir com a nossa imaginação. E isso só surge devido às relações que estabelecemos com o meio e com outros, num vínculo com o mundo.

Nas  crianças este processo se intensifica mais ainda, afinal, elas são seres em formação e buscam fazer parte da sociedade. Na infância há processos de formações (biológicas e psicológicas) para a construção do indivíduo e, para aprender coisas novas, é necessário novas experiências.

Uma criança sente, toca, fala, ouve, morde e busca qualquer tipo de contato para trazer este externo para si, formando suas experiências. Ela tenta, de todas as maneiras, compreender com seu corpo as descobertas, as oportunidades e suas construções de saberes. O novo causa curiosidade que, com seus atributos físicos, busca novas estratégias para entender o que é.

Se não há uma dificuldade, não há necessidade de se criar novos tipos de estratégias. Pegar a argila e moldá-la com a boca talvez não seja a melhor maneira de construir uma montanha, mas toca-lá, passar o dedo, pressiona-lá até tomar forma talvez seja uma maneira construtiva de lidar com aquele material.

E isso, para uma criança, ocorre com a necessidade de utilizar aquele tipo de material e compreender outras maneiras de viver a experiência e de criar leituras dos espaços.

Caminhos já utilizados, demandam menos esforço de pensamento e aprendizado. A dificuldade de sair de desafios é uma maneira de aprendizado, portanto o brincar tem um ótimo efeito de entreter.

Criar desafios então é benéfico! Permitir que elas descubram isso mais ainda!

A proteção de frustrações é saudável para a infância da criança até o limite de sua construção de experiências. Permitir que ela construa os caminhos para que se constitua como ser humano é a melhor maneira de permitir sua potencialidade.

A proteção excessiva pode dificultar este tipo de situação. A proteção faz parte do processo de relação, mas podemos auxiliar, acompanhar e fazer parte destas experiências infantis. É preciso um distanciar-se e permitir a experiência de mundo. Afinal, a criança não é uma tábula rasa: ela constrói seus pensamentos e tenta reproduzi-los no mundo. A interpretação que ela faz é importante para o aprendizado dela: tanto no erro quanto no acerto.

Por isso o ato de brincar se torna uma maneira alternativa das crianças enfrentarem dificuldades e se prepararem para elas de forma lúdica. O peso do desafio se esvazia com a sutileza do entreter-se. As diferentes interpretações e modos de pensar se acabam em articulações para continuar a brincadeira.

A ilusão de brincar permite que este pequeno ser transforme as experiências em aprendizados. Ainda que não seja intencional, a superação dos obstáculos colocados durante o brincar fazem com que o esforço de articular (pela imaginação) novas estratégias aumente, criando novas construções de saberes.

O brincar pressupõe, liberdade, riscos, certezas, incertezas e muito aprendizado para a vida.