É característica comum a todos os seres vivos a busca incansável pelo seu “habitat”. Para cada espécie, um conjunto de interesses e necessidades a serem oferecidas pelo espaço, de forma a tornar o quanto mais completo possível seu ambiente. A natureza de forma muito sábia, ao longo de milhões de anos, foi se organizando a contemplar estas oportunidades a todos nós. Em que pese nossa (e aqui me refiro especialmente aos seres humanos) capacidade de adaptação às variadas formas de espaço, é muito importante que se tenha em mente, quando buscamos a construção de um ambiente, uma relação direta com os sentidos e os sentimentos.

Daí a importância de conhecermos com alguma profundidade as características tanto do espaço quanto do indivíduo, para que seja possível estabelecer uma relação muito próxima entre eles. Promover o encontro entre suas buscas e as ofertas do lugar é que o transforma num ambiente. E não se trata de uma simples questão semântica. É o estabelecimento de questão filosófica, porque afeta diretamente o nosso ser e nosso estar. 

A criação de um ambiente, seja qual for seu objetivo, pode ser a chave que estabelece a fronteira entre o sucesso e o fracasso. Para que um espaço não seja simplesmente um lugar, o indivíduo precisa, necessariamente, encontrar-se nele. A sensação de bem-estar (observe o verbo: “estar”) que só é possível atingir quando uma ou mais sensações positivas atingem um ou mais sentidos. 

Duas formas de atingir seu bem-estar num espaço são possíveis. A primeira delas se dá quando o indivíduo encontra oferta de materiais capazes de satisfazer seus desejos e necessidades num ambiente já concebido naturalmente. Nestes tempos recentes em que fomos compelidos a um recolhimento social e às possibilidades de trabalho remoto, muitos de nós acabamos por encontrar espaços prontos a nos receber com nossas demandas, e nos acolher de forma completa. Uma casa de campo ou de praia, onde anteriormente considerávamos um “lugar” para passar nossas férias, adaptados com elementos capazes de nos possibilitar trabalho e produção (exigências de nossa sobrevivência), os transformaram em nossos ambientes, onde encontramos a justa medida entre a necessidade e a possibilidade.

A outra forma é a construção completa dos ambientes, como se espera e deseja seja feita em nossas escolas. Para tanto é ideal conhecer as preferências, interesses e desejos da criança para que o espaço seja concebido de forma a dar acolhida a sua complexidade. Ter em mente, sempre, a importância das formações neuronais, as sinapses a serem estabelecidas, as questões motoras e sensoriais e, também as afetivas a que toda criança tem por direito. Transformar o espaço num ambiente onde a criança deseje estar, e entregar-lhe uma infinidade de possibilidades, onde seus sentidos (todos) sejam tocados por diferentes sensações (visuais, táteis, olfativas etc.), bem como suas possibilidades de envolvimento e desenvolvimento também encontrem vazão. Quanto maiores forem as conexões formadas entre a oferta (espaço) e a procura (indivíduo), mais completa e eficaz terá sido a construção do ambiente.

Um ambiente capaz de convidar às relações, sejam elas entre elementos ou pessoas. Um ambiente composto por materiais inteligentes que em conexão uns com os outros acionem boas perguntas, ideias e levantamento de hipóteses. Ora refutadas, ora comprovadas. 

Tomando emprestadas as palavras de Loris Malaguzzi:

“Valorizamos o espaço devido ao seu poder de organizar, de promover relacionamentos agradáveis entre as pessoas de diferentes idades, de criar um ambiente atraente, de oferecer mudanças, de promover escolhas e atividades, e a seu potencial para iniciar toda a espécie de aprendizagem social, afetiva e cognitiva (…)” 

Você já parou para pensar sobre esse assunto? O que sua escola tem feito para alçar a tão desejada posição de “ambiente”? Vale lembrar que não é necessário (de imediato) investimentos robustos na aquisição de móveis e objetos desenvolvidos para esta finalidade específica. Estamos falando de estabelecer conexões entre os espaços físicos, os materiais disponíveis e as sensações e sentimentos das crianças. É possível (e altamente recomendável) construir ambientes muito ricos a partir de objetos de largo alcance, elementos naturais, peças e acessórios descartados, e tudo mais que a criatividade orientada possa nos conduzir. Amplie o seu olhar, busque nos elementos já existentes outras possibilidades (Bruno Munari escreve  sobre materialidade e alteração de uso primário em seu livro Das coisas nascem coisas de uma maneira convidativa (editora Martins Fontes)) e ouse. A educação precisa de ousadia para caminhar! Bora começar pelas alterações de espaços!

Vamos juntos nos entregar a este exercício? 

Compartilhe conosco sua experiência para que também este nosso espaço de blog promova o encontro de nossas experiências, e que nossas carências sejam supridas por tantas possibilidades, e que este seja um ambiente de crescimento conjunto, onde todos desejamos estar.