Considerações sobre o reino mineral na educação

Sedimentares, metamórficas ou magmáticas? Nada disto.

Estamos a falar sobre a relação que se estabelece entre a infância e as pedras. A partir das considerações existentes na relação da criança com a natureza como um todo e da percepção de que o ser humano é parte desta natureza e com ela é capaz de nutrir-se de conhecimento e desenvolvimento é que se produziu este trabalho tão “precioso”.

Inserida na premissa do “brincar livre”, a criança é capaz de estabelecer relações corpóreas (sensoriais) e extracorpóreas (emocionais) com os objetos ofertados. Diante disso, e provocadas pela inquietude de “Luiza Lameirão”, um grupo de professoras da escola “Casa Amarela”, estudiosas da Pedagogia Waldorf, decidiu, além dos estudos ocorridos em reuniões pedagógicas semanais, criar um observatório para escolha do tema de aprofundamento e as pedras foram escolhidas para dar suporte a esta pesquisa em conjunto. 

De posse delas, e com a possibilidade de exploração lúdica livre, as crianças trouxeram uma infinidade de possibilidades. A integração das pedras às brincadeiras foi observada e registrada com muita propriedade. Destaque-se a importância desses registros na observação do desenvolvimento da criança nos ambientes que ofertam contato com todos os elementos da natureza, conforme preconiza a Pedagogia Waldorf.

Desde as menores até aquelas escaláveis, a pedra se consiste em um elemento muito significativo. Formatos, cores e texturas das mais variadas são capazes de conduzir a imaginação a uma infinidade de possibilidades. Alicerce para construções sólidas, brinquedos, joias entre tantas outras. Ao entregar-se às brincadeiras a criança trás consigo suas pedras e elas se integram inteiramente. O ser humano é parte integrante da natureza e essa capacidade de incorporação dos elementos naturais ao brincar é quase que instintiva, ou seja, ela flui naturalmente, bastando para tanto que sejam “disponibilizadas” e o mais importante, que lhe sejam permitidos tempo e liberdade.   

Elemento dos mais importantes da evolução da espécie humana, as pedras tiveram papel de extrema importância. Desde a construção das ferramentas da humanidade mais remota, do desenvolvimento da roda, até as construções mais robustas que ainda hoje nos enchem os olhos, e seguem firmes como as pirâmides por exemplo. Sem nos esquecer das pedras preciosas que ainda hoje carregam seu valor tanto como adorno como em lastro, e os microscópicos fragmentos minerais que navegam em nossas águas e em nosso corpo. A relação estabelecida entre nós e os minerais é observada pela “antroposofia”, que é a doutrina filosófica criada por “Rudolf Steiner” que, resumidamente, pretende levar o espírito do homem ao espírito da natureza, compondo-os como uma unidade.

Diante de toda essa complexidade, os registros que se seguiram a partir da observação cuidadosa são um verdadeiro convite. Instrumentos tão valiosos de memória e documentação nos permitem aprofundar nos saberes sobre a criança, os espaços, as relações e sobre nós mesmos. Colhidos do brincar absolutamente livre, nenhuma interferência dos educadores foi imposta às crianças, de forma que o desenvolvimento se deu a partir de suas próprias iniciativas e exercício autônomo da vontade.

O livro “Aninhar: um olhar para as crianças e o seu brincar com as pedras” é essencial às prateleiras dos educadores que creem em uma educação que tenha como base o respeito integral à infância e a tudo que provém dela.