OUTRA EDUCAÇÃO JÁ É POSSÍVEL. UMA INTRODUÇÃO ÀS PEDAGOGIAS ALTERNATIVAS

O que significa uma “alternativa” para nós? Quando é que optamos por adotar uma solução considerada alternativa? 

Quando uma estrada está interrompida, optamos por um caminho alternativo. Quando um medicamento não apresenta eficácia, utilizamos um tratamento alternativo. Mas será mesmo que precisamos aguardar o insucesso ou a impossibilidade de algo para buscar opções alternativas? Por certo que não.

Quem não se lembra da primeira visita a um restaurante japonês, por exemplo? Uma alternativa culinária muito interessante. Mas quando fomos lá pela primeira vez muito possivelmente não o fizemos porque outros restaurantes estavam fechados ou lotados. 

É preciso ter força de iniciativa e curiosidade racional para o exercício de entrega às formas alternativas, em especial, aquelas cujo sucesso já é cantado em verso e prosa.

Por onde começar a transição para uma escola alternativa?

Uma das melhores maneiras de iniciarmos qualquer mudança é o exercício mental de reflexão e visualização do que se deseja. Imaginar como seria e procurar, dentro de si, as sensações alcançadas com o sucesso. Sonhar.

E isso precisa necessariamente iniciar dentro de cada um de nós. Toda mudança exterior é precedida por um desejo e uma mudança interior. É preciso que sejamos transformados para podermos transformar algo. Não é diferente no mundo da educação.

Nossas crianças estão prontas para vivenciarem transformações nas escolas?

Esta é definitivamente uma resposta que temos de cor. Sim, nossas crianças estão absolutamente prontas para viverem o cotidiano de escolas mais próximas de seus anseios. Basta o exercício simples de comparação entre a criança que fomos e as crianças dos dias atuais.

Existe uma evolução de nossa própria espécie que está em curso, e em ritmo muito acelerado. Desejos, interesses e aptidões nascem cada vez mais cedo e isso é observado a olho nu. As crianças demonstram com muito mais vigor seus anseios e são cada vez mais expostas a uma gama maior de informação.

E não se trata apenas da simples introdução de equipamentos e brinquedos eletrônicos em suas vidas. Elas estão convivendo em ambientes familiares cada vez mais abertos e as temáticas de nosso dia a dia estão disponíveis a elas. Não há mais espaço para as “conversas de adulto”.

Ainda antes de se entregarem aos ambientes escolares, a informação chega a elas por intermédio dos desenhos animados, das propagandas de televisão, dos livros infantis, das ofertas visuais de nossas cidades, nas músicas, etc. 

Para o bem ou para o mal, é fato que crianças de 4 ou 5 anos nos dias de hoje são muito mais carregadas de estímulos do que aquelas que viveram a mesma idade há 30 anos atrás. 

O que é uma escola inovadora?

Quando pensamos em inovação, imediatamente nosso pensamento se remete a algo cronologicamente recente. Entretanto, quando falamos de escolas inovadoras isso não é necessariamente uma regra.

Inicialmente pelo fato de que, em geral, nossas escolas apresentam o mesmo modelo adotado há 50 anos. Seguimos com nossas lousas e nossas carteiras enfileiradas, com nossos calendários, nossos métodos didáticos, nossos cronogramas e nossas notas.

Também há de ser considerado que nossas crianças apresentam uma transformação muito significativa em suas capacidades cognitivas, vindas da evolução de nossa espécie, de nossos ambientes, das tecnologias disponíveis, etc..

Sabemos que esta escola mais tradicional tem alcançado os objetivos. A maior parte de nós, pais e educadores, somos produtos destas escolas. Não é nosso objetivo a “demonização” dos modelos tradicionais. 

Lembre-se do exemplo do restaurante japonês. Quando fomos conhecer os seus produtos, nosso desejo não era simplesmente matar nossa fome. Para isto, um prato feito seria o suficiente. Mas acabamos por nos saciar com prazer, com a descoberta de sabores novos, de cores e texturas desconhecidas. Isso transformou nosso simples ato de comer numa experiência incrível e memorável.

Sendo assim, para a construção de uma escola considerada inovadora, não é necessário que imediatamente derrubemos as lousas e paredes, que compremos computadores modernos ou que mudemos a disposição de nossas carteiras. 

Mas é especialmente importante que nossos olhos estejam preparados para olhar ANTES para a criança e as transformações que elas já sofreram. É preciso considerar sua evolução e os diretos que ela passou a ter a partir de suas novas necessidades. Devemos estar muito atentos aos seus desejos recentes, seus interesses mais latentes e considerar individualmente suas aptidões.

Como inovar nossas escolas?

A partir de nossa certeza de que nossas crianças estão prontas e ávidas por mudanças, é nosso dever darmos início a elas, para que aproximem nossas escolas dos novos desejos, necessidades e direitos que estas crianças adquiriram a partir de suas próprias transformações.

E tudo tem início em nosso olhar. A forma com que introduziremos estes elementos transformadores em nossos cotidianos vai depender exclusivamente de nossa consciência de que isto é absolutamente necessário.

São muitas as possibilidades existentes. Muitas delas amplamente estudadas já há muito tempo. Mas o mais importante é inovarmos nossa forma de pensar a educação, para que ela se aproxime da criança como um todo. Devemos refletir sobre nosso próprio conceito de infância, e como nossa escola pode ser instrumento de valorização das inúmeras nuances que a infância apresenta.   

Fazer desse espaço coletivo um lugar memorável, onde a riqueza da infância não seja diluída em favor da simples entrega de conteúdos programáticos, mas que ela seja enriquecida de saberes envoltos em satisfação e abundância de vivências.

O tema é dos mais importantes, e nosso livro embalado do clube de assinatura para professores DIÁLOGOS EMBALADOS do mês de janeiro de 2022 apresenta esta reflexão e nos convida a este tema. 

Assim como no exemplo do restaurante japonês, devemos estar prontos a experimentar novos sabores, novas texturas, novas cores e sensações, para que, assim como somos capazes de transformar nosso ato de comer numa experiência prazerosa e inovadora, também sejamos capazes de transformar nossa missão de educar em algo enriquecido de prazer e respeito pela criança e seus direitos.