Em uma das aulas de Artes foi proposto aos alunos que desenhassem a escola a partir de dois pontos. Para surpresa das Professoras, Francisco, aluno do 2o ano do Ensino Fundamental I, fez um desenho panorâmico, isto é, desenhou a instituição de cima, como se fosse um pássaro, voando, olhando do alto, de uma forma inédita, inesperada, surpreendente.

 Assim, considero que deva ser o exercício da docência: inovador, inédito, surpreendente. E para isso é necessário investir na formação do educador.

A formação acontece em diferentes espaços e tempos: a formação prévia no ensino superior, em que circulam os conhecimentos básicos (como a língua, a matemática, as ciências entre outros) necessários para a atuação com as crianças e adolescentes; a formação nos movimentos sociais (fóruns, sindicatos, associações), para uma boa orientação de cunho político; a formação cultural que favorece experiências com a arte de forma geral; a formação na instituição em que se trabalha garantindo estudo, leitura, discussão em grupo para a compreensão e qualidade do cotidiano escolar que se transforma a cada dia (com o tempo).

A complexidade da escola está imbricada na complexidade da sociedade. Neste cenário, muitos olhares se concentram nos educadores, aumentando a abrangência de seu papel, pedindo inovações, desejando que reconstruam valores, que renovem conhecimentos ao ritmo que a sociedade de informação impõe. 

 Constatou-se que a formação inicial dos professores não dá conta dessa complexidade, pois a docência é uma atividade cognitiva profunda por se basear em conhecimentos e técnicas; uma atividade comunicativa baseada em diálogo; uma atividade relacional mediada pela pessoa do professor. Nessa perspectiva, o docente é o aprendiz que forma e o formador que aprende.

 Como cuidar das crianças e adolescentes descuidando dos educadores? Como educar meninas e meninos sem valorizar a educação dos próprios professores? Como formar sujeitos pensantes a não ser formando e se transformando no processo ensino-aprendizagem?

 Para garantir uma visão inédita, ampla, panorâmica, como a de Francisco, na educação é preciso se colocar sempre no exercício da formação. Segundo Carla Rinaldi, Presidente da Instituição Reggio Children, inspiradora de nosso trabalho: “o desenvolvimento pessoal e profissional e educação são coisas que nós mesmos construímos na relação com os outros, com base em valores escolhidos, partilhados e elaborados em conjunto. Significa viver em permanente estado de investigação.”

Ana Teresa Gavião – Possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2003) e Mestrado e Doutorado em Educação e Psicologia pela Universidade de São Paulo (2006 e 2011) – Diretora  de Formação  da Fundação Antonio Antonieta Cintra Gordinho  – Jundiaí