O tempo de acolhimento em um espaço educativo pressupõe elementos e situações que podem ser, por nós, antecipadas: a chegada de novos habitantes, a permanência de antigos habitantes, olhos que  tocam, braços estendidos, mãos que afagam, entre e sai de educadoras e pais, espaços planejados e preparados para a chegada de crianças e adultos, silêncios preenchidos por risadas soltas, conversas e… choro.

O choro é o ato inaugural da vida. Quando o recém-nascido é recebido em nosso mundo, vindo de seu berço uterino, onde gozava da absoluta proteção materna, ele também apresenta seu choro. Aquele que marca o afastamento do seu corpo e do corpo dela. Que também sinaliza a prontidão de seus pulmões, agora cheios de oxigênio e capacidade respiratória. Ato de bravura e liberdade. Este mesmo choro se repete quando da chegada à escola, porque a criança passa de seu ambiente confortável, seguro e individual para um lugar desconhecido, portanto incerto e  ademais, coletivo.

Choro que, em geral, se inicia tímido – uma ou outra lágrima insistindo em cair – e ganha volume à medida em que a experiência de separação se aproxima.

Certamente é choro de ser livre, sem amarras, mas envolto em afeto. Tudo ao seu redor se mostra novo, desde a temperatura, o cheiro, o toque, o hálito e o hábito de seus pais, e então passa a viver o inédito. Ao trocar os braços dos pais pelos da educadora, a criança nasce de novo para um outro mundo e a expressão de seus sentimentos é mais do que legítima, é necessária.

Assim como seus pulmões devem estar prontos para o parto, para, durante o choro, se inflarem de vida, todos nós, educadores e pais devemos estar prontos também. A construção das relações entre a criança e a escola será definida, em parte, na transição serena que há de haver entre o colo dos pais e o da professora.

Aproximar-se das lágrimas e entender seu significado, respeitar o comportamento apresentado, entregar-se à situação e localizar seus próprios pontos de dor na relação estabelecida com o choro do outro, essa é a postura cotidiana da educadora que acompanha a criança nesse momento. Disposta e disponível, a adulta referência deve enxergar essa manifestação como uma linguagem e um direito. 

Que todos choremos, em nossas intensidades individuais, mas que sejamos sabedores que: tanto na maternidade quanto na porta da escola, o choro é anúncio de novos tempos, de ingresso em nova vida…

Edu Ferreira e Fabi Vitiello