Existe uma relação muito estreita entre a escola e a criança e a construção de seu desenvolvimento de aprendizagens, de vivências, convivências, sociabilidade e cidadania. Isso não é novidade pra nenhum de nós.

Mesmo assim, em meio às inúmeras preocupações que nos habitam em nossos cotidianos, nossos espaços escolares podem acabar ocupando um lugar secundário, o que não nos parece muito favorável.

Precisamos estar sempre atentos para que a escola não seja simplesmente o “lugar” para deixar as crianças, mas que seus “espaços”sejam pensados de forma a obter o melhor aproveitamento da infância, transformando-os em “ambientes”.

A infância precisa de espaço

Você já se deu conta do fascínio que se observa na criança quando a entregamos a um espaço que ofereça riquezas de possibilidades? Corpos que partem imediatamente para a exploração, olhos que brilham em meio às novidades.

Não há maneira melhor e mais eficaz de promover o aprendizado se não fazê-lo com que venha acompanhado dos prazeres que alimentam a infância. Não é coincidência que isso tenha sido norteador das abordagens defendidas por nomes como Loris Malaguzzi (Reggio Emilia), Maria Montessori, Emmi Pikler, e tantos outros educadores referência.

A relação tempo e espaço

Ainda que pareça apenas poesia, é fato que, para a criança, o tempo para quando ela se entrega ao brincar e consequentemente ao aprender. Basta perceber que onde elas brincam de forma livre, ir embora é cedo demais. Sempre desejam ficar mais um pouco.

Este feliz encontro entre o brincar e o aprender deve sempre guiar nossas ações e nossas atenções quando da organização dos espaços escolares. Crianças se entregam por completo quando brincam e, quando estão neste estado, a aprendizagem encontra corpos e mentes desejosos. 

Vale lembrar que com as necessidades dos dias atuais, as crianças participam de  uma carga horária cada vez maior em nossas escolas. E para que estar na escola não seja um peso a ser carregado por elas, nossos espaços devem promover uma verdadeira “parada” no tempo.

Construir, reformar ou pensar? 

Óbvio que onde couber a possibilidade de pensar nos espaços antes da construção, será de muita valia. Entretanto, na imensa maioria das vezes nossas escolas surgem de espaços pensados para outras finalidades. 

Especialmente nos grandes centros onde a expansão imobiliária está ocorrendo apenas nas regiões mais periféricas e, em geral, não existe mais espaços a serem construídos.Desta forma, as escolas nascem em casas, galpões e prédios comerciais. 

E não há nenhum problema nisso, desde que estejamos atentos ao que desejamos ser enquanto escola. Seja para construir ou reformar, pensar é o verbo a ser conjugado. Pensar como educadores atentos e nas infâncias que vamos conduzir ali.

É válido que observemos todos os componentes comerciais que devem compor a escolha de um imóvel. Preços, localização, estacionamento, vizinhança… Tudo tem importância. Mas se a potência das infâncias não for contemplada, não terá valido a pena.

Os imóveis e os móveis

Esta é outra relação bastante estreita. Um ambiente adequado é aquele em que existe uma harmonia entre as necessidades, as possibilidades, as demandas, as ofertas, os direitos e os encontros daqueles que habitarão.

No caso específico das crianças e de suas múltiplas linguagens, é preciso que sejam provocadores, criativos e acolhedores. Há de haver uma identidade construída, para que as crianças ali desejem estar. 

E não apenas isso. É importante que todos os elementos que compõem este espaço sejam carregados de significados. As escolhas pedagógicas podem e devem encontrar sentidos nas paredes, no chão, nos móveis e em todos os outros itens. 

Por onde começar a redefinir os espaços?

Separamos aqui algumas reflexões para auxiliar você na criação, ampliação ou transformação de seus espaços escolares. Como o “pensar” é o primeiro passo, a partir disto o que devemos considerar?

– Muito ou pouco espaço? Não importa. A ideia é que haja aproveitamento máximo daquele que estiver disponível.
– Como organizar os móveis? A organização deve privilegiar sempre o olhar da criança. – Acesso e segurança são importantes, mas precisa favorecer sempre o convívio! 
– Quais os melhores materiais? Existe uma infinidade deles à disposição para atender todos os gostos e bolsos, mas lembre-se: se não estiverem disponíveis às crianças para o uso livre e o exercício de organização de tempo e espaço, não terá valido a pena.

Para saber mais sobre o assunto, temos um curso EAD chamado “CRIANDO ESPAÇOS DE APRENDIZAGEM”, ministrado por Karine Ramos, doutora em educação e fundadora do Ateliê Quero-Quero, onde dialogamos sobre as características do espaço, os materiais, o mobiliário, as linguagens que eles oferecem e como, por intermédio da intencionalidade, podemos criar ambientes de aprendizagem para as experiências originais da criança.

Nós, que acreditamos que a EDUCAÇÃO SE FAZ NO PLURAL, estamos certos de que os ambientes devem compor nosso desejo, exatamente como um  educador. Que tal transformar o lugar num ambiente onde a infância seja conhecida e reconhecida como parte integrante, onde as vozes e as experiências das crianças estejam presentes e, por isso, passem a fazer sentido?

Há sempre algo a ser objeto de nosso olhar atento. Vamos ver isso?