Vamos abrir este artigo traçando um delimitador bastante claro. Ainda que sejamos, em nossa maioria, defensores de uma escola mais livre e democrática, isso não pode e nem deve ser confundido com nenhuma forma de desorganização ou falta de planejamento, onde o improviso seja uma constante.

Sendo assim, seja qual for o modelo que inspira a sua escola ou suas ações, precisamos tratar da organização do trabalho pedagógico, em especial na educação infantil.  

A organização em primeiro lugar

Assim como em toda e qualquer atividade profissional, o bom andamento e os bons resultados derivam necessariamente de uma ação planejada, organizada e bem executada. Ainda que não estejamos a falar de um “produto”, é certo que a educação é um dos mais firmes pilares de uma sociedade.

Desde as questões mais simples como: “que educador desejo ser”, até as mais complexas de formação, cidadania e direitos da infância devem passar pelos estudos sobre a organização do trabalho pedagógico. 

Sendo assim, conceitos gerais de organização e planejamento no trabalho docente é mais do que uma obrigação profissional, é uma demonstração de absoluto respeito pela educação, por si mesmo e pela infância que nos é confiada.

O trabalho pedagógico organizado

Já com foco específico na organização do trabalho pedagógico, vale lembrar que, em quaisquer circunstâncias, devemos estar norteados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, e sob as quais se construiu a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 

A partir deste ponto é que se iniciam as discussões acerca das sequências didáticas, projetos e propostas que pretendemos que sejam fomentadoras de desenvolvimento e do processo ensino/aprendizagem da criança. 

Os elementos do trabalho pedagógico.

Esta organização tem como destino a equalização dos elementos do trabalho pedagógico, que são:– OBJETIVOS: o que desejamos alcançar junto à criança deve estar definido antecipadamente, sejam os de caráter geral, sejam os específicos;
– CONTEÚDOS: delinear, a partir dos objetivos, quais conteúdos devemos fazer uso, em suas três modalidades de conceito, procedimento e atitude.
– MÉTODOS: definir qual o melhor formato para que seja possível alcançar os objetivos por intermédio dos conteúdos delineados;
– AVALIAÇÃO: em qualquer de suas modalidades, permite não apenas a verificação da eficácia de objetivos, conteúdos e métodos, mas também tem sua função formativa permanente.

 

Como é definido o processo do projeto pedagógico?

A definição do processo de construção do projeto pedagógico deve ser compreendida como participativa, ou seja, sob os olhares de estudantes, famílias e profissionais de educação, e seu planejamento deve contemplar quatro níveis:- EDUCACIONAL
– ESCOLAR
– CURRICULAR
– ENSINO – este subdividido em: planos de aula ou sequências didáticas

 

A construção dos Projetos Político-Pedagógicos

Por se tratar de um documento onde se elencam as ações pedagógicas em curto, médio e longo prazo, como forma de dar sustentação e possibilitar a avaliação das práticas adotadas. Ele estampa a identidade da instituição que representa, dando aspectos legais ao modelo, bem como atendendo os direitos constitucionalmente assegurados coletivamente.

Este projeto também necessita apresentar uma identificação da escola, os princípios didático-pedagógicosa que ela se se propõe e as diretrizes operacionais das ações que se pretendem adotar. Todas estas informações remetem ao Plano de Trabalho Docente bem como à avaliação.

Funcionando como se fosse um “manual da escola”, ele serve de norteador para todos: educadores, crianças, familiares e a sociedade como um todo. Pode ser dividido em três principais partes:– Proposta curricular: onde será definido claramente o método ou a abordagem a ser aplicada, bem como qual a modalidade avaliativa a ser adotada na aferição tanto da aprendizagem, quanto do próprio processo. 
– Diretrizes acerca da formação do corpo docente: destacando qual a forma de organização para cumprimento da proposta curricular, bem como da proposta de formação continuada dos educadores.
– Diretrizes administrativas: deve constar a forma de organização administrativa, de forma a garantir o cumprimento das propostas e diretrizes.

 

Por que “político” pedagógico?

Existe um conceito histórico na inclusão da palavra “político” nos projetos pedagógicos. Em resumo, isso nasce na década de 80, quando o Brasil passou a viver uma retomada democrática. Em 1988, no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, iniciou-se um movimento de autonomia das escolas, para que de adaptassem às realidades locais, o que acabou sendo confirmado a partir da Constituição de 1988.

Desta forma, num modelo de escola mais aberta, onde se permite a participação da sociedade de forma geral, e da preocupação de formar os estudantes de forma mais completa, aprofundando na construção de sua cidadania, é que o termo passou a integrar a nomenclatura do documento.

Vale dizer que o projeto político pedagógico não há de ser inflexível e perene. Ele deve ser revisitado regularmente, para que tanto se aperfeiçoe nos pontos em que as avaliações demonstrarem ser necessário, como também para que se transforme à medida que os educadores também devem se transformar.

Especialmente na educação infantil, onde nos rodeamos de pluralidade e singularidade inerentes à infância, e todo o poder transformador que nos é necessário para absorvermos as rápidas transformações do mundo, tudo há de ser novo ou renovado. 

Há quanto tempo o projeto político pedagógico de sua instituição não é retomado pela equipe? Quem sabe são seja esta a hora…