– Ingredientes: Uma memória, uma ou duas cozinheiras queridas: mães, avós, tias ou familiares e amigos a gosto.
– Modo de preparo: Abra sua caixa de lembranças e retire cuidadosamente suas antigas recordações; encontre aromas, texturas e cores que remetam a algum tempo feliz de sua vida; 
– Tempo de preparo: Aqueça seu coração na temperatura máxima, feche seus olhos. Pode levar apenas uma fração de segundo para ficar pronta.
– Porções: Pode servir todas as pessoas, por uma vida inteira.

Certamente o formato descrito é o mais clássico modelo de receitas que circulam em nosso meio pelas mais diversas formas. Elas estão em uma infinidade de “sites”, “blogs”, estão em “antigos cadernos”, podem estar nas gavetas de nossos armários ou dentro de nossos livros em “folhas soltas”. Outras sabemos decor. 

Quem nunca ofertou uma receita a alguém? Qual o significado deste gesto tão singelo? 

Comer é um dos exercícios de prazer que o ser humano consegue repetir pelo maior número de vezes durante sua vida. E este prazer vem acompanhado de inúmeros outros, e vão compondo nossa memória afetiva de forma muito sólida.

O seio da mãe a nos entregar o primeiro alimento, e formando o laço afetivo mais significativo de todos: a maternidade. 

As comidas servidas em nossos encontros de fim de semana, onde havia interação entre gerações diferentes, as conversas entrelaçadas, as trocas de olhares, gargalhadas. Crianças correndo pela casa, alegria. 

Um jantar romântico com quem amamos. Comida acompanhando planos, projetos, sonhos…

Dividir a mesa com pessoas queridas para conhecê-las melhor e sempre. Ouvir as velhas histórias, aprender as velhas canções. Uma troca afetiva tão intensa, que nos deixa marcas para sempre.

Em tempos de “delivery”, e “fast food”, é possível que tenhamos deixado nossas lembranças no modo pause. Mas é sempre bom rememorar voluntariamente. 

Apenas por exercício, responda rápido e em voz alta: “qual comida remete às memórias felizes de sua infância”?  

Certamente há uma resposta imediata. A comida está diretamente ligada às nossas lembranças. Nossos olhos se fecham automaticamente quando trazemos à boca uma porção do sabor que nos compõe a história. A tradicional macarronada, um feijão preparado na banha, um nhoque de batatas frescas, manjericão, coentro, salsa… amor… presenças. 

É possível que algumas pessoas não estejam mais entre nós, mas seus pratos e temperos ainda permanecem vivos em nosso paladar, em nosso olfato e nossa lembrança. Como é deliciosa a sensação que experimentamos ao reproduzir uma dessas receitas afetivas! Como nos apegamos aos antigos “caderninhos” de receitas de nossos antes queridos!

Reviver e reconstruir os pratos servidos em nossa história mais remota é uma forma de reverenciar e reviver momentos, reencontrar pessoas, reexperimentar sabores. É como uma reexibição de nosso filme favorito. É como sentir o abraço apertado de alguém, é revisitar as salas e cozinhas repletas de gente querida. Saborear a vida vivida.

Experimente esta receita. Onde estão as suas? Abra suas gavetas, encontre suas anotações soltas em algum lugar de sua lembrança. Os tempos atuais estão a nos permitir mais tempo em casa. Aproveitemos.

Não deixe de dividir com quem ama suas memórias afetivas com a comida. Eternize-as. E lembre-se de dividir conosco uma pequena porção desta sensação tão agradável de encontrar prazer no comer e no conviver.