Neste mês de maio estamos celebrando a semana do brincar. Uma data simbólica, porém, muito importante para todos os que acreditamos que o brincar livre é um direito de toda criança.

A ideia central é orientar, difundir e sensibilizar o maior número de pessoas possível para os significados, as virtudes e o quão saudável é para as crianças de todas as idades ativar-se no brincar livre. O corpo e a mente se favorecem.

O brincar e o desenvolvimento integral da criança

Brincar é um exercício de desejo genuíno das crianças. Os estímulos externos como jogos ou ambientes pré-concebidos, ainda que colaborem na condução das brincadeiras, sequer são obrigatórios para o desenrolar da mesma. 

O exercício do imaginário, a construção de suas próprias narrativas e o desejo instintivo de viver intensamente o lúdico como algo real é o suficiente para a criança que brinca livre. Com isso, o seu desenvolvimento se dá de forma integral, ou seja, ele passa por todos os seus sentidos.

Tocar o solo com mãos e pés, sentir a brisa fresca das manhãs a lhes acariciar a pele, aquecer-se ao sol e refrescar-se na chuva, contemplar as imagens do ambiente disponível para completa-las com seu poder imaginário, ouvir todos os sons que emanam dos brincares. Acredite, não é apenas exercício poético, é movimento necessário.

O corpo que se entrega ao brincar vai conhecendo seus limites e gradativamente os vence, quando avançam. Desde os primeiros movimentos dos bebês até as escaladas mais difíceis, a brincadeira está presente na formação e transformação dos corpos.

Crianças que brincam mais também se alimentam e dormem melhor e isso forma um ciclo virtuoso de benefícios. Mas não para por ai. Quando brincam juntas desenvolvem suas habilidades de socialização ao compartilharem seus brinquedos e suas imaginações. 

Brincar forma e fortalece vínculos

Quando uma criança se abre para o brincar, ela está abrindo as suas próprias portas para conhecer o mundo. Isso inclui os objetos, a natureza, os animais, os brinquedos e também as outras pessoas.   

A melhor forma de se aproximar de uma criança é brincar com ela, de preferência fazendo um deslocamento para seu próprio mundo. É importante que frequentemos seus ambientes imaginários para nos identificarmos com seus interesses e desejos.

Quem se permite ir ao chão para se tornar um herói ou um vilão, para construir um cenário imaginário, para fazer ou assistir a um espetáculo de mágica, construir uma cabana ou comer uma deliciosa refeição servida num pratinho invisível, estará em verdade tecendo uma colcha de afetos com a criança.

O prazer que eles encontram quando brincam nos contagiam de forma a nos remeter às mais remotas sensações de nossa própria infância e nos devolvem uma nova oportunidade de nos sentir criança mais uma vez. 

Esses vínculos afetivos que se formam a partir do brincar vão nos acompanhar por toda a vida. Ora, a partir da consciência de que brincar forma vínculos afetivos tão robustos, como vamos ousar não brincar com nossas crianças? 

Algumas dicas de brincar

Muito mais do que sugerir brincadeiras que já são conhecidas, nossas dicas de brincar estão focadas especialmente na forma, e não tanto no conteúdo. Óbvio que jogos, brinquedos e até mesmo os eletrônicos são válidos. Mas o diferencial pode estar em outros lugares:

– Liberdade: Sempre que possível, é recomendado que a criança tenha liberdade no brincar. Deixar que sua imaginação e criatividade conduzam suas narrativas. É importante que ela se apodere das construções mentais de suas brincadeiras.

– Tempo e espaço: Tão importantes e complementares à liberdade. A brincadeira livre leva a criança a uma dimensão onde não há passagem de tempo. Os espaços de brincar também compõe esta tríade. Natureza e ar livre, com seus elementos não estruturados devem ser sempre prestigiados.

– Presença imersa: Com foco na formação de vínculos afetivos, o adulto (educador ou familiar) pode e deve marcar presença nas brincadeiras, não apenas de corpo presente, mas deixando-se imergir nas narrativas e permitindo que sua participação seja ativa, mesmo sem assumir qualquer protagonismo.

– Movimento: Corpos que brincam buscam sempre mover-se. Claro que sabemos que é preciso alguns cuidados na prevenção de acidentes, mas correr, subir e descer de brinquedos, pular, equilibrar-se, e até mesmo o cair e se levantar são importantes. Autocontrole e confiança vão sendo adquiridos quando a criança faz uso de seu corpo e reconhece limites (para ultrapassá-los) e se fortalece em corpo e mente.

É assim que desejamos as infâncias de todos. Que o brincar seja um encontro com o novo, o lúdico e o imaginário, que a brincadeira chegue aos corpos, aos sonhos e aos sentimentos e especialmente que nós, que vivemos a infância há mais tempo, saibamos nos encontrar com as crianças ao nosso redor enquanto brincam, para ingressarmos em seus mundos e reencontrarmos com a nossa própria infância, que repousa feliz dentro de nós.

Vamos brincar?